A COLÔNIA
I. O
Achamento de Vera Cruz
Aos
22 de abril de 1500 aportou na Bahia a esquadra de Pedro Álvares
Cabral. Sua passagem, a caminho de Calicut (Índia), marcou o pioneirismo
português nas Grandes Navegações dos séculos
XV/XVI. Na época, a ascensão econômica da burguesia
mercantil permitiu um sonho: o domínio do comércio das especiarias
orientais. Aliados aos burgueses, os jovens Estados Nacionais promovem
a Expansão Marítima Européia.
Conseqüentemente,
o Atlântico tornou-se a principal rota comercial do planeta e os
descobrimentos de novas terras abriram a era das colonizações.
Estava nascendo a prática do Mercantilismo, conduzida pelos
reis absolutistas.
Esta
política econômica instaurou os monopólios comercias,
sobretudo nas relações entre as metrópoles e suas
colônias. Através dos Pactos Coloniais, buscava-se
sempre o saldo positivo na balança comercial, o que possibilitou
uma formidável acumulação de capitais nos países
colonizadores.
Estes
fatos sugerem uma questão: Cabral teria vindo até a América
sem querer? Os pesquisadores lembram que a Carta de Pero Vaz de Caminha
se refere à “Ilha de Vera Cruz”. Mas dizem também que havia
uma Política de Sigilo (ordem de esconder as descobertas importantes).
Em 1494, o Tratado de Tordesilhas havia dividido o mundo entre Portugal
e Espanha. Mas quem confiava em tratados? O importante mesmo era ocupar
as novas terras.
II.
A Colonização Mercantilista
Nos
primeiros trinta anos do século XVI, Portugal enviou apenas expedições
de patrulha e extração do pau-brasil. A montagem do
Sistema Colonial foi iniciada com a chegada de Martim Afonso de Sousa,
fundador da Vila de São Vicente, em 1532.
O
açúcar foi escolhido como atividade principal, pois ampliava-se
o mercado consumidor europeu, os lusos já o produziam nas ilhas
atlânticas e o Brasil tinha o clima e o solo adequados. Além
disso, os burgueses flamengos (futuros holandeses) financiaram os primeiros
grandes engenhos.
O
sistema agrário implantado era de grandes propriedades monoculturas
e exportadoras. Movido pelo trabalho escravo, foi depois chamado de Plantation.
O tráfico de africanos, aliás, rendeu altos lucros aos mercantilistas
portugueses. Por tudo isso, o investimento inicial foi bastante alto.
A
sociedade nos engenhos era rigidamente estratificada. A aristocracia
rural, proprietária de terras e de escravos, dava-lhe um caráter
patriarcal e concentrava altas rendas. Na base: os escravos negros, os
mestiços e brancos pobres.
E
a política era dominada pelo Governador Geral, a quem se
submetiam os Donatários e Governadores das Capitanias. As
Câmaras Municipais governam as vilas e seus membros eram eleitos
pelo voto censitário, ou seja, pelo limite de renda que somente
os chamados “Homens Bons” possuíam.
III.
Invasões Estrangeiras e Novas Fronteiras
Entre
1580 e 1640, o Brasil esteve sob domínio da União Ibérica.
Morto D. Sebastião, em Alcácer Quibir (África), seu
primo espanhol, D. Felipe II de Habsburgo, assumiu o trono. A Espanha lutava
com ingleses, franceses e holandeses pelo domínio da Europa. Por
isso, o Brasil tornou-se alvo daquelas nações.
As
Invasões
Holandesas foram as mais importantes. Os navios da Companhia das Índias
Ocidentais (WIC) atacaram a Bahia (1624), e Pernambuco (1630). Seu objetivo:
restaurar o comércio do açúcar com a Holanda, proibido
pelos espanhóis. Ao Nordeste Holandês foi enviado o Príncipe
Maurício de Nassau, com sua política de reconstrução
dos engenhos danificados pelas lutas. A Restauração Portuguesa
de 1640 quebrou o domínio espanhol e a Guerra de Independência
da Holanda prosseguiu. Nassau foi substituído. A política
holandesa do arrocho provocou a Insurreição Pernambucana
de 1645. E os holandeses foram expulsos em 1654, após as Batalhas
de Guararapes.
A
principal conseqüência da Guerra do Açúcar
foi o declínio da economia canavieira. Os holandeses foram produzir
nas Antilhas. Mas a pecuária havia ocupado os sertões nordestinos
e os fortes construídos na costa norte haviam gerado povoamento.
Esta expansão Oficial (militar) levou à criação,
em 1621, do Estado do Maranhão, a Amazônia separada do Brasil.
A COLÔNIA
IV.
Bandeirantes e Jesuítas
A
expansão territorial do Brasil deveu-se em especial às bandeiras
montadas pelos paulistas, nos séculos XVII e XVIII. A Capitania
de São Vicente vivia isolada do pólo açucareiro nordestino
e sua economia de subsistência não assegurava o enraizamento
da população pobre.
As
bandeiras
de apresamento predominaram na 1ª metade do século XVII.Os
holandeses conquistaram a África ocidental portuguesa e embargaram
o tráfico negreiro para a Bahia. Por isso, grandes bandeiras se
dirigiram ao Sul e atacaram as missões jesuíticas, capturando
os índios, para depois vendê-los. Nas missões, os jesuítas
se utilizavam dos índios catequizados como mão-de-obra nas
atividades pecuárias, extrativistas, etc. A companhia de Jesus policiava
a sociedade e combatia a expansão do Protestantismo. Os ataques
paulistas os expulsaram do sul.
As
bandeiras
de prospecção foram montadas sobretudo na metade final
do século XVII e visavam à descoberta de metais preciosos.
Com efeito, na última década foi descoberto ouro nas Serras
Gerais. A interiorização do povoamento deu origem, então,
às capitanias de Minas, Mato Grosso e Goiás.
E
as bandeiras de contrato visavam à destruição
de Quilombos. Nesse campo, destacou-se Domingos Jorge Velho na luta contra
Zumbi dos Palmares.
A
mineração viabilizou o início do povoamento do interior
da Colônia. Com baixos investimentos iniciais foi possível
montar as primeiras faiscações (pequenas propriedades)
de ouro. Depois viriam as grandes lavras de ouro e as Casas de
Fundição, subordinadas às Intendências
das Minas. A estas cabia a arrecadação de impostos, como,
principalmente, o quinto e a capitação.
O
Brasil passou por sensíveis transformações em função
da mineração. Um novo pólo econômico cresceu
no Sudeste, relações comerciais inter-regionais se desenvolvera,
criando um mercado interno e fazendo surgir uma vida social essencialmente
urbana. A camada média, composta por padres, burocratas, artesãos,
militares, mascates e faisqueiros, ocupou espaço na sociedade. Contraposta
à sociedade açucareira, a mineradora apresentou maior mobilidade
social com o crescimento do trabalho livre.
No
plano político, o início da mineração acompanhou
o sentimento nativista expresso na Revolta de Vila Rica, em 1720,
liderada por Felipe dos Santos. No apogeu do ouro, Portugal viveu a Era
Pombalina (1750-77). O Marquês de Pombal, ministro do déspota
esclarecido D. José, expulso os jesuítas do Reino, eliminou
as Capitanias Hereditárias e mudou a capital para o Rio de Janeiro
(1763). O declínio do ouro acompanhou a explosão da arte
barroca mineira e as conspirações pela independência.
VI. Conjurações
Pela Liberdade
No
dia 21 de abril de 1792, um certo Tiradentes foi enforcado e esquartejado
no Rio de Janeiro, condenado por traição à Rainha
Maria I. Era o alferes Joaquim José da Silva Xavier, um dos conjurados
da Inconfidência Mineira de 1789. Na 2ª metade do século
XVIII, a produção de ouro caiu rapidamente. Os impostos tornaram-se
pesados e Portugal ameaçava cobrar os atrasados com a violência
da
derrama.
Na
mesma época, a Europa vivia as turbulências da Revolução
Industrial. O iluminismo e o Liberalismo combatiam o Absolutismo e o Mercantilismo
do “Antigo Regime”. O domínio luso tinha os dias contados.
A
Conjura
Mineira de 1789 foi o primeiro movimento, no Brasil, a defender a Independência.
Embora republicana, a liderança aristocrática não
admitia abolir a escravidão. Antes, as Rebeliões Nativistas
(Armador Bueno – SP, Beckman – MA, dos Emboabas – MG e dos Mascates – PE)
não puseram a idéia de nação em luta contra
a exploração da metrópole.
Já
a Conjuração Baiana de 1798, ou Revolta dos Alfaiates,
apresentou um caráter mais progressista, ao incluir o ideário
abolicionista e republicano nos objetivos da Independência. Violentamente
reprimida, a conspiração teve quatro líderes executados
em Salvador. Mas a Independência se aproximava.
Mariana, séc. XVIII.
O IMPÉRIO
VII.
A Independência do Brasil
Em
1799, Napoleão Bonaparte assumiu o poder na França. Seus
projetos industrialistas e expansionistas o levaram ao confronto direto
com a Inglaterra. Por isso, em 1806, determinou o Bloqueio Continental:
o continente foi proibido de manter relações com os britânicos.
Isto afetou diretamente Portugal. Ameaçada de invasão, a
Corte do Regente D. João retirou-se para o Brasil. Pressões
inglesas e brasileiras o levaram assinar a abertura dos portos,
em 1808, pondo um fim no Pacto Colonial. Era o domínio inglês.
Bandeira
do Reino Unido
Os
Tratados de 1810 selaram de vez tal domínio. E o Brasil foi
elevado a
Reino Unido de Portugal, em 1815. Esta submissão
de D. João a Londres irritou profundamente a burguesia lusitana,
pois a independência parecia inevitável. Mesmo a repressão
joanina aos republicanos da Revolução Pernambucana
de 1817 não bastou para aplacar a ira de Lisboa.
Assim,
em 1820, a Revolução do Porto implantou a monarquia
constitucional e D. João VI voltou a Portugal. Aqui deixou o Príncipe
D. Pedro como Regente. Formaram-se duas agremiações rivais:
o Partido Português, desejando a recolonização do Brasil,
e o partido brasileiro, da aristocracia. Em 1822, por duas vezes, D. Pedro
foi intimado a retornar: em 9 de Janeiro deu a decisão do “Fico”
e a 7 de setembro, o “Grito do Ipiranga”. Nascia o Império.
VIII. O Primeiro Reinado
A
monarquia brasileira consolidou-se de forma crítica. A marca do
1º Reinado foi a disputa pelo poder entre o Imperador Pedro I e a
elite aristocrática nacional. O primeiro confronto deu-se na outorga
da Constituição de 1824. Durante o ano anterior as
relações entre o governo e a Assembléia Constituinte
foram tensas. Enquanto a maioria “brasileira” pretendia reduzir o poder
do Trono, os “portugueses” defendiam a monarquia centralista. O desfecho
foi o golpe da “noite da agonia”: a Constituinte foi dissolvida.
D. Pedro, então outorgou a Constituição que
seus conselheiros elaboraram e fortaleceu-se com o Poder Moderador.
A
reação veio na revolta da Confederação do
Equador, em 1824. A repressão custou a vida de expoentes liberais,
como Frei Caneca. Neste mesmo ano os E.U.A. reconheceram o Brasil livre.
Mas o reconhecimento português e inglês só vieram após
intricadas negociações que geraram a dívida externa.
Em seguida, Pedro I envolveu-se na questão sucessória portuguesa
e na Guerra Cisplatina, perdendo o Uruguai.
Em
1830, as agitações resultaram no assassinato do jornalista
de oposição Líbero Badaró e na “noite das
garrafadas”, entre lusos e brasileiros. Foi a crise final: no dia 7
de abril de 1831, a abdicação de D.Pedro encerrou
o 1º Reinado.
Quinta da Boa Vista
IX. As Regências
do Império
O
Período Regencial (1831-40) foi o mais conturbado do Império.
Durante as Regências Trinas, Provisória e Permanente, a disputa
pelo poder caracterizou um “Avanço Liberal”. O Partido Português
tornou-se o grupo restaurador “Caramuru” defendendo a volta de Pedro
I; o Partido Brasileiro dividiu-se nos grupos Exaltado (“Farroupilha”)
e Moderado (“Chimango”), respectivamente a favor e contra uma maior
descentralização política.
A
Regência Trina Permanente criou, em 1831, a Guarda Nacional,
através do Ministro da Justiça Padre Diogo Feijó.
A nova arma servia à repressão interna e deu origem aos “coronéis”
das elites agrárias. A Constituição foi reformada
através do Ato Adicional de 1834. Foram criadas as Assembléias
Legislativas Provinciais, abolido o Conselho de Estado e substituída
a Regência Trina por Una.
Estas
parcas vitórias liberais produziram, então, o Regresso Conservador.
Os regentes Feijó, do Partido Progressista, e Araújo Lima,
do Regressista, enfrentaram a radicalização das Rebeliões
Regenciais: Cabanagem (PA), Sabinada (BA), Balaiada (MA) e Guerra
dos Farrapos (RS/SC) foram as principais. Todas de caráter federativo,
embora tão distintas. E a principal conseqüência foi
o Golpe da Maioridade, em 1840.
O IMPÉRIO
X.O Império do Café
O
café foi introduzido no Brasil em princípios do XVIII. Sua
rápida ascensão o pôs na ponta da economia entre as
décadas de trinta dos séculos XIX e XX. A independência
e a revolta dos escravos na Haiti, principal produtor, abriu espaço
para o Brasil no mercado mundial. O café pôde aproveitar a
infra-estrutura econômica já instalada no Sudeste, os solos
adequados da região (sobretudo a terra roxa) e não precisou
de mão-de-obra qualificada na instalação das primeiras
lavouras. Assim, o investimento inicial de capital foi relativamente baixo.
As
conseqüências imediatas mostraram-se na modernização
das relações de produção. O café foi
gradativamente substituindo os escravos pelos assalariados, sobretudo imigrantes
europeus. Para tanto, contribuíram as pressões inglesas pelo
fim do tráfico negreiro. Em 1844, foi aprovada a Lei Alves Branco,
que extinguiu taxas alfandegárias favoráveis aos ingleses,
vigentes desde 1810. Invocando os mesmos tratados daquele ano, foi promulgado
o Bill Aberdeen, em 1845. Esta lei, juntamente com a Lei Eusébio
de Queirós de 1850, extinguiram o tráfico e levantaram
a questão abolicionista.
Eram
os primeiros passos capitalistas de um país, ainda incapaz de aceitar
a industrialização sonhada pelo Barão de Mauá.
XI. A Glória
de Pedro II
Em
1847, o jovem imperador prematuramente entronado em 1840, completou vinte
anos. Foi instaurado o sistema parlamentarista de governo e o café
ganhou os mercados do mundo. A última guerra civil do Império
sangrou Pernambuco na Revolução Praieira de 1848.
A monarquia mostrava-se mais uma vez surda às reivindicações
“radicais” dos liberais.
A
estabilidade política revelou a contradição entre
as aparências democráticas e a essência autoritária
do regime. As eleições eram censitárias e fraudulentas,
apelidadas de “Eleições do Cacete”. O Partido Liberal e o
Partido Conservador eram elitistas, sem diferenças ideológicas
significativas. E o parlamentarismo às avessas permitia ao
Poder Moderador do rei manipular tanto o 1º Ministro como o Parlamento.
Entre
1851 e 1870, o império enfrentou as Guerras Externas no Prata. Foram
conflitos sangrentos causados pelo caudilhismo expansionista, pelo controle
da navegação nos rios da Bacia Platina e influenciados pelos
interesses ingleses na região. Principalmente a Guerra contra Solano
Lopes (Paraguai) trouxe drásticos aumentos na dívida externa
e influências políticas sobre os militares, atuantes de ora
em diante no movimento republicano.
D. Pedro II
XII.
O movimento Republicano e o 13 de Maio
Os
partidos e grupos agrários revezavam-se no poder numa gangorra viciada
e alheia aos reclamos da sociedade em mutação. O trabalho
assalariado imigrante e a semi-servidão sufocavam a escravidão.
E Pedro II observava estrelas.
Em
1870, através do jornal A República, o Manifesto
Republicano de Quintino Bocaiúva lançou a proposta do
Partido Republicano à sociedade. Mas só três anos depois,
com a fundação do Partido Republicano Paulista na
Convenção
de Itu, surgiu o grupo dos “Republicanos Históricos”.
Os
“Republicanos Idealistas” organizaram-se em torno do Exército, que
fundou o Clube Militar. Dessa forma, os cafeicultores e as emergentes
classes médias urbanas encontravam seus interlocutores. A Campanha
Abolicionista tomou espaço com a Lei do Ventre-Livre
de 1871, mesmo ano da Questão Religiosa, entre o governo
e a cúpula católica. A Lei Saraiva Cotegipe libertou
os sexagenários em meio à Questão Militar.
A 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea,
extinguindo a escravidão no Brasil. Foi a gota d’água. A
monarquia desabou no dia 15 de novembro de 1889. O Marechal Deodoro da
Fonseca expulsou a família Bragança do Brasil e instaurou
a República.
A REPÚBLICA
XIII.
A República dos Marechais
O
Governo Provisório de Deodoro da Fonseca revelou as divergências
entre o Exército e o P.R.P.; o Ministro da Fazenda Rui Barbosa adotou
uma política emissionista baseada em créditos livres
aos investimentos industriais, garantidos pelas emissões monetárias.
Os latifundiários defendiam prioridade para a agroexportação.
A especulação financeira desencadeada, a inflação
e os boicotes através de empresas - fantasmas e ações
sem lastro desencadearam, em 1890, a Crise do Encilhamento.
A
Constituição
de 1891 foi promulgada pela Constituinte que elegeu o Marechal Deodoro
presidente. Seu governo, no entanto, não durou os quatro anos previstos.
Pressionado pela crise, por adversários e aliados, Deodoro decretou
estado de sítio e dissolveu o Congresso em 3 de novembro do mesmo
ano. Vinte dias depois, num contra-golpe, foi deposto pelos militares.
Assumiu
o vice-presidente Floriano Peixoto; seu governo enfrentou, em 1893, a Revolução
Federalista no Rio Grande do Sul e a Revolta da Armada. A primeira
contrapôs “Pica-Paus” e “Maragatos” pelo governo gaúcho; a
segunda foi a última tentativa sangrenta de restauração
da monarquia no Brasil. A repressão a ambas valeu a alcunha de “Marechal
de Ferro” ao presidente Floriano.
XIV.
A República dos Coronéis
Prudente
de Morais, eleito pelo voto direto, foi o primeiro presidente civil. Teve
seu governo marcado pela guerra de Canudos, em 1896/97. Mas coube aos sucessores
Campo Sales e Rodrigues Alves a montagem do regime das oligarquias. O primeiro
renegociou a dívida externa através do Funding Loan,
em 1898, e o segundo estabeleceu a política de valorização
do café pelo Convênio de Taubaté (1906).
Fixavam-se os tempos da hegemonia dos cafeicultores. Com o “voto de cabresto”
os coronéis dominavam as clientelas rurais e manipulavam as eleições;
a política dos governadores consagrava a troca de apoio entre
o governo federal e as oligarquias estaduais e tudo isso viabilizava a
política
do café com leite, ou seja, o domínio federal pelos cafeicultores
de São Paulo e de Minas Gerais.
As
difíceis condições de vidae
a marginalização política impostas à maioria
dos brasileiros explicam genericamente as principais revoltas que abalaram
a I República. Assim, os movimentos messiânicos de
Canudos (1896-97) e do Contestado (1911-15), as revoltas da Vacina (1904)
e da Chibata (1910), na Capital, e a Greve Geral de 1917 eram sintomas
dos problemas sociais da época.
XV. A
Revolta dos Tenentes
Somente
nos anos vinte amadureceram as contestações organizadas contra
o café com leite e sua política de socialização
das perdas do café. Em 1922, a Semana de Arte Moderna
pôs a contestação na ordem do dia: aReação
Republicana lançou Nilo Peçanha contra Artur Bernardes,
candidato do regime; no dia 25 de março foi fundado o Partido
Comunista do Brasil (PCB). Após a I Guerra Mundial, o Clube
Militar voltou a ser o articulador político. O Tenentismo
se expôs, então, como principal ameaça à hegemonia
coronelista. Era um movimento essencialmente militar, elitista e reformista,
além de ideologicamente heterogêneo. Manifestou-se primeiro
no episódio da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922. Depois
fez de São Paulo um campo de batalha na Revolução
de 1924 e viveu seu apogeu na marcha da Coluna Preste pelo país,
entre 1924 e 1927.
Eram
intelectuais, artistas, operários e até latifundiários
e militares se organizando. A vanguarda tenentista sabia bem o que não
queria,
sonhava com reformas sociais, políticas e econômicas,
mas não tinha clareza de como executá-las. Foi, assim, útil
braço armado na Revolução de 1930.
Forte de Copacabana
A REPÚBLICA
XVI. A revolução
de 1930
“Problema
de salário é caso de polícia”: esta frase do Presidente
Washington Luiz ilustra bem a visão das oligarquias agrárias
sobre as questões sociais. “Façamos a revolução
antes que o povo a faça”, clamor do governador mineiro Antônio
Carlos prenunciando o fim da 1ª República. Era 1930. As oligarquias
dissidentes do regime uniram-se na Aliança Liberal e
lançaram Getúlio Vargas à presidência contra
o candidato do PRP, Júlio Prestes. A derrota de Getúlio aproximou-as
dos tenentistas e o assassinato de João Pessoa, vice na chapa da
Aliança Liberal, desencadeou a preparação do golpe
final. Em 3 de outubro, começou a revolta e no dia 24, Washington
Luís foi deposto. Iniciava-se a Era Vargas.
XVII.
A República de Vargas
A
ditadura de Vargas criou o Ministério do Trabalho, os sindicatos
urbanos e sua imagem de “pai dos pobres”. A política econômica
da nova era caminhou sobre duas pernas: a queima do café e a industrialização.
Assim, nasceu o populismo de Getúlio: um regime baseado
no Estado paternalista, nos sindicatos atrelados, numa política
trabalhista e em projetos nacionalistas.
Mas
em São Paulo, o Movimento Constitucionalista de 1932 exigiu
a Assembléia Constituinte. A 23 de maio, a morte de quatro jovens
(Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), numa manifestação,
gerou o M.M.D.C. e a mobilização para a guerra. Entre
9 de julho e 1º de outubro. Travou-se o confronto militar. E a vitória
federal gerou a constituinte de 1933.
Na
promulgação da Constituição de 1934, Vargas
foi eleito indiretamente presidente da República Nova. A
época era de radicalização. Surgiram a Ação
Integralista Brasileira e Aliança Nacional Libertadora,
representando respectivamente a vertente nacional do fascismo e uma frente
antifascista. A cassação da A.N.L. gerou a Intentona Comunista
de 1935 e a repressão. Em 1937, uma falsa conspiração
comunista, o Plano Cohen, gerou o pretexto para o golpe de 10 de
novembro: as eleições foram canceladas e o Congresso fechado.
XVIII. O Estado
Novo
A Constituição
“Polaca” de 1937 foi outorgada e instituiu um regime nacionalista autoritário,
baseado no corporativismo “pelego”. Os sindicatos atrelados, a burguesia
industrial e as forças armadas sustentavam a ditadura. O
Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP) e a Polícia Especial garantiam
o Controle Social.
A industrialização
priorizou o setor de base, através de empresas estatais montadas
com financiamentos norte-americanos. O apoio do Brasil aos Aliados na II
Guerra Mundial permitiu a industrialização pesada, mas custou
o poder a Getúlio. Afinal, os mesmos militares que sustentavam a
ditadura aqui foram mobilizados na luta contra o fascismo lá. O
envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB) à
Itália gerou a redemocratização, que derrubou
um dos pilares do tripé de apoio do Estado Novo.
Em 1945, Getúlio
concedeu a anistia política, viu surgirem novos partidos e convocou
a Constituinte. Organizou o Movimento Queremista para apoiá-lo.
Mas a conjuntura mundial desfavorável aos regimes ditatoriais e
as pressões internas, civis e militares (contra o ultranacionalismo
getulista) o levaram à renúncia no dia 29 de outubro. Morreu
o Estado Novo, mas não o populismo getulista.
A REPÚBLICA
XIX. A
República Populista
A
Constituinte de 1946 abriu a polêmica questão do desenvolvimento.
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) defendia o nacionalismo radical,
seu aliado Partido Social Democrático (PSD) advogava o desenvolvimento,
enquanto a anti-populista União Democrática Nacional (UDN)
preferia o desenvolvimento associado aos investimentos estrangeiros maciços
no país.
No
início da Guerra Fria, o governo Dutra cassou o PCB, legalizado
em 1945, e fundou a Escola Superior de Guerra. Seu Plano SALTE
estabeleceu saúde, alimentação, transporte e energia
como prioridades de desenvolvimento, mas empréstimos e importações
deram o tom se sua sugestão.
De
volta ao poder pelo voto direto, Getúlio Vargas fundou o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) com a função
de gerenciar os investimentos nas empresas estatais. Para enfrentar a feroz
oposição da UDN, liderada pelo deputado e jornalista Carlos
Lacerda, os aliados do governo promoveram a campanha de “o petróleo
é nosso” em 1953. Com a vitória e a fundação
da Petrobrás, Vargas tinha forças para prosseguir seu projeto
nacionalista. Na noite de 5 de agosto de 1954, seu inimigo Lacerda sofreu
o atentado da rua Tonelero, em que morreu o Major Vaz, no crime e sem condições
de enfrentar a crise, Getúlio suicidou-se na manhã de 24
de agosto.
XX.
A Era Desenvolvimentista
A
morte de Getúlio Vargas gerou tensão nas eleições
promovidas pelo presidente Café Filho. A vitória de Juscelino
Kubitschek (PSD) e João Goulart (PTB) foi contestada pela UDN. Em
novembro de 1955, o Ministro da Guerra Lott, mobilizou o exército
para garantir a posse de JK e Jango.
Dali
nasceu o último governo estável do regime. JK tinha apoio
dos dois maiores partidos e dos militares e pôde pôr em prática
seu Plano de Metas desenvolvimentista. O slogan “50 anos e 5”
orientou os investimentos em transportes, energia e indústria pesada.
A indústria automobilística, a criação
da SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste) e
a construção da nova capital, em Brasília,
cimentaram a popularidade de JK.
Mas
o lado bom do crescimento econômico não encobriu os problemas
resultantes do programa desenvolvimentista. A multiplicação
da dívida externa, o disparo da inflação e a derrota
da dobradinha PSD-PTB nas eleições presidenciais de 1960.
O Plano de Metas mostrou que não pode haver desenvolvimento sem
crescimento econômico mas o contrário parece possível.
XXI. A
Crise do Populismo
Jânio
Quadros, o candidato do “tostão contra o milhão”,
teve uma ascensão meteórica na política. De vereador
a presidente, explorou sempre seu formidável carisma como paladino
da honestidade e da austeridade contra a corrupção. Com sua
exótica vassoura moralista, chegou ao poder desprezando partidos
e programas. Postura autoritária que lhe custou caro. Diante das
dívidas internas e externas herdadas do governo anterior, optou
por uma política eqüidistante de comércio exterior.
Pretendia estabelecer relações com países socialistas
em plena Guerra Fria. Chocou-se frontalmente com a UDN, que o apoiara, e
com os militares. A 25 de agosto de 1961, renunciou.
A renuncia
de Jânio gerou uma crise entre os militares contrários e favoráveis
à posse do vice João Goulart. A saída conciliatória
foi o Parlamentarismo. Três Primeiros Ministros tentaram enfrentar
a situação econômica agravada por greves e boicotes.
No plebiscito de 1963, a República voltou ao Presidencialismo.
Jango passou, então, à ofensiva contra a inflação,
com o Plano Trienal. Propôs um amplo programa de reformas de base
(agrária, tributária, educacional, etc.) e procurou limitar
as remessas de lucros das empresas estrangeiras. Em resposta, as conspirações
antipopulistas uniram militares, empresários dos
Institutos de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro
de Ação Democrática (IBAD), a UDN e a Agência
Central de Inteligência (CIA) e culminaram no Golpe Militar de
1964.
A REPÚBLICA
XXII.
A República dos Generais
O
governo Castelo Branco instaurou a “nova ordem” e construiu os alicerces
do “milagre” brasileiro. Criou o Conselho de Segurança Pública
e o Serviço Nacional de Informações para a repressão
às oposições. Em seguida, instituiu o Banco Nacional
da Habitação e o Instituto Nacional de Previdência
Social para resgatar apoio das classes médias. Depois, através
do Banco Central e do P.A.E.G (Programa de Ação Econômica
do Governo), abriu a economia ao capital estrangeiro, aumentou investimentos
estatais e arrochou salários. Finalmente, extinguiu os partidos
políticos com o AI-2 (Ato Institucional Nº 2), gerando
a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB). Quando foi “promulgada” a Constituição
de 1967, a “linha dura” militar passou a controlar o poder, com o Marechal
Costa e Silva.
Sem
sindicatos livres, sem partidos e com a imprensa calada, as últimas
trincheiras da oposição eram os estudantes, alguns religiosos
e artistas. Em 1967, Jango, JK e (pasmem!) Carlos Lacerda tentaram articular
a Frente Ampla de oposição. As agitações
estudantis fizeram a cara de 1968 e a resposta foi o Ato Institucional
Nº 5 (AI-5). A ditadura abria os “anos de chumbo”.
XXIII. A Era do Milagre
O
General Médici, terceiro presidente militar, impôs o 1º
P.N.D. (Plano Nacional de Desenvolvimento), sob orientação
da Escola Superior de Guerra. A acumulação de capital foi
realizada através de investimentos estrangeiros e estatais. O arrocho
salarial garantiu mão-de-obra barata. A repressão calou as
oposições e as esquerdas armadas. Era a política de
“segurança
e desenvolvimento” para “fazer o bolo crescer”, como dizia o
Ministro Delfim Netto. “Brasil, ame-o ou deixe-o” era a propaganda
da ufanista do país tri-campeão de futebol.
Enquanto
isso, a inflação fugia ao controle, a dívida externa
explodia e a renda se concentrava. Em 1974, o MDB recebeu uma avalanche
de votos nas eleições legislativas. A Guerra do Vietnã
acabou e o apoio externo às ditaduras também. Começou,
então, a distensão política do governo de Geisel,
que culminou no fim do AI-5, em dezembro de 1978. O governo do General
João Figueiredo foi o da abertura “lenta, gradual e segura”, planejada
por Geisel. A reforma partidária criou o partido Democrático
Social (PDS), oriundo da ARENA, o PTB, o PMDB, o partido dos Trabalhadores
(PT) e o PDT (Partido Democrático Trabalhista). As oposições
levantaram a campanha das diretas-já, em 1984. Derrota a
mobilização popular, formou-se a Aliança Democrática
que, com Tancredo Neves, derrotou o candidato do PDS, Paulo Maluf. Era
o fim do regime militar, agora desnecessário.
XXIV. A República
Neoliberal
Tancredo
Neves morreu e José Sarney, ex-presidente do PDS, assumiu a presidência.
Em fevereiro de 1986, surpreendeu o país com o Plano Cruzado.
Uma
nova moeda substituiu o cruzeiro, os preços foram “congelados” e
a moeda, valorizada. O governo prorrogou o congelamento de preços
até dia 15 de novembro, para garantir sua vitória nas eleições
constituintes. Conseguiu, mas a liberação imediata do mercado
fez a inflação explodir.
A
Constituição
de 1988, a mais democrática da nossa história. Deu, no
entanto, ao governo o expediente das medidas provisórias. Nas eleições
de 1989, um personagem novo emergiu na política nacional: Fernando
Collor elegeu-se presidente batendo Luís Inácio da Silva
(Lula), um operário sindicalista do PT. Chocou a população
com a volta do cruzeiro e confisco das poupanças em nome da estabilização
financeira. Acusado de corrupção num processo de impeachment,
renunciou e teve seus direitos políticos cassados.
Seu
vice, Itamar Franco, com o Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso
aplicou o Plano Real em 1994. Ancorado nos dólares das reservas
cambiais, o Real estabilizou os preços e permitiu ao governo acelerar
o programa de privatização de empresas estatais. Isso valeu
ao ministro FHC a eleição para a presidência e a posterior
reeleição, em 1998.
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